"Compreendi que a casa estava morta quando os mortos principiaram a morrer.
(...)
O autêntico coração da casa eram as ervas sobre as campas ao fim da tarde ou no princípio da noite, dizendo palavras que eu entendia mal por medo de entender, não o vento, nãs as folhas, vozes que contavam uma história sem sentido de gente e bichos e assassínios e guerra como se segredassem sem parar a nossa culpa, nos acusassem, repetindo mentiras, que a minha família e a família antes da minha tinham chegado como salteadores e destruído a África, o meu pai aconselhava
- Não ouças"
Friday, January 29, 2010
Wednesday, January 20, 2010
Friday, January 15, 2010
Whatever Happened to Dulce Veiga - Caio Fernando Abreu
"The first time I saw Dulce Veiga, and there were only two times, she was sitting in a green velvet armchair. A bergère, although in those days I didn't even know that was what they were called. I knew so little of anything in those days that, later, when I tried to describe it in my mind and on paper, I said that it was one of those classic armchairs, with a high back and something like two wings jutting out at the height of the head of the person sitting. for some reason, even today, when I think of it, I also inevitably think of a black and white movie from the forties or early fifties."
Labels:
Brasil,
Caio Fernando Abreu
Wednesday, December 30, 2009
Technological Innovations - I
How about a history of reverse engineered technological innovations over the centuries? Technological diffusion. Which (and how was done) new technologies and machines were kept from being developed or used by other countries?
Saturday, December 12, 2009
Fotografia - Caio Fernando Abreu
Caio Fernando Abreu
Inventário do Ir-remediável (1995)
Inventário do Ir-remediável (1995)
Sentada aqui, desde não sei quando, olho à esquerda, olho em frente, em cima olho quase tonta de não encontrar, olham também da mesa ao lado, já perguntei as horas duas vezes, não, três, o cara respondeu direito da primeira vez, da segunda me olhou oblíquo, na terceira comentou qualquer coisa com a mulher, deve ter dito coitada, levou o bolo, me dá nojo, não exatamente nojo, que é uma coisa de estômago que se derrama viscosa pelos outros, atingindo tudo em torno, esverdeada, não, nem ódio, que é grande demais, não cabe dentro de mim, da minha arquitetura frágil de mulher magra, as pernas finas suportando não sei como os ombros e o tamanho dos olhos, o ódio seria demais, eu tropeçaria toda atrapalhada com meu próprio peso, a raiva é mais mansa e eu me sinto capaz de suportá-la, a raiva cabe em mim porque não permanece, e as coisas só adentram em mim quando podem escapar em seguida, eu sufoco, sei bem, sufoco e quase esmago as coisas, as gentes também, apenas ultrapassam numa, rapidez de quem não olha para trás e vai seguindo em frente, fraca demais para ser barreira, transparente, porosa feito cortina de fumaça, não, não exata mente, a fumaça ao menos faz os olhos ficarem vermelhos, provoca tosse, eu não consigo abalar ninguém, um plástico, material sintético, teve pena certa, eu não quero que tenham pena de mim, dói mais que tudo os outros olhando de cima, constatando a fraqueza nossa, a nossa inferioridade, quero que me olhem do mesmo plano, se ele quer comentar alguma coisa com sua companheira que diga lembra? Uma vez que eu também esperei por você assim, você não vinha, não vinha nunca, eu fumava, eu bebia, eu esperava e você não vinha, mas acabou vindo e está aqui, agora, vendo uma moça que espera como eu esperei você naquele dia, parece que daqui a pouco ele vai me dizer as horas sem eu perguntar, não como se estivesse se dobrando num jeito de amigo, mas como se me agredisse lançando a espera inútil no meu rosto, esqueci completamente as horas, não sei se estou aqui desde ontem, desde sempre, parece que já choveu, já fez vento e garoa, que o amarelo das folhas sobre a calçada é do outono passado, não deste, parece que já é inverno gelando a gente por dentro, que o verão pesa nas pálpebras tornando lentos os gestos, dessa preguiça no andar como se a cada instante agente morresse, mas esse salto por dentro é primavera impulsionando para um verde renascido, garoa morna, fina, quieta nesse jeito de colocar os olhos longe, um longe despido de barreiras, ah essa toalha azul axadrezada de branco, o círculo úmido do copo onde uma mosca se debate, a minha bolsa, o maço quase vazio de cigarros, duas garrafas vazias de coca-cola, o cinzeiro cheio de pontas, essa música indefinida machucando por dentro, como se estivesse desde sempre aqui, escorregando devagar, as notas feito pingos de chuva na vidraça abaixada, vontade de dizer um palavrão, esses dois me olhando, assim, gozando, rindo da minha espera, mesmo o garçom de paletó branco, um dente de ouro na frente, vai escurecendo, trinta e duas tábuas no teto, gente saindo, passando, tivesse ao menos um jornal para disfarçar, não adianta, que horas serão, meu Deus, não quero perguntar outra vez, vai ficar muito evidente, já mudei mil vezes de posição na cadeira, não encontro o jeito, seria necessário um jeito específico de esperar, é medo o que eu tenho? Não sei, de repente me encolho toda; um movimento interior de defesa eriçado por um sentimento que desconheço, da mesa ao lado eles levantam, vão saindo, indo embora lentos, o garçom desaparece ao lado do balcão, começa a anoitecer, todos os relÓgios estão parados, não sei se é ontem, se hoje ou amanhã, se é sempre, se nunca mais, estou solta aqui, completamente só, não há relógios, não há relógios e o tempo avança liberto, sem fronteiras nem limitaçÕes, uma bola de arame farpado, o sentimento vai se adensando em mim, transborda dos olhos, das mãos, sai pela boca em forma de fumaça, sinto meus lábios ressequidos, machucados, o gosto amargo, a bola cresce estendendo tentáculos, no meio dela eu me encolho cada vez mais, presa num círculo que cresce até explodir na vontade contida de gritar bem alto, bem fundo, rouca, exausta, correndo, esmagando as folhas de um outro outono, de um outro tempo, ainda este, o tempo, o outono, a tarde, o mundo, a esfera, a espera em que estou para sempre presa.
Labels:
Brasil,
Caio Fernando Abreu
Friday, December 11, 2009
Chromotherapy - Colors and words
On a window sill, water-filled colored glasses sit through the day: Violet for meditation, elevation, these subtleties; Blue for words and throat; Green for lungs and heart; Yellow washing liver, intestines, calming anxiety; orange and sex; and finally Red, centered on the sill, more exposed to the sun. Red for the structure of my path. Legs and feet. My armchair, my walking stick, my road diverging in two.
Labels:
Iran Rodrigues
Friday, November 27, 2009
Fotografie - O un racconto con gli occhi chiusi
Aveva i capelli lisci, neri e non molto corti, che battevano sul collo quando si muoveva. Non parlava molto, ma aveva gli occhi neri che, grandi, sembravano talvolta scintillare sotto le ciglia anche scure e che si progettavano improvvisamente, cosi quasi troppo. Un pò magra, aveva le braccia lunghe per la sua altezza di un metro e sessanta e pochi centimetri, e portava sempre solo un piccolo anello nel terzo dito della sua mano sinistra. Non aveva cicatrici visibili né rughe ma, come se fosse un tatuaggio, usava sempre un cammeo sulla carnagione chiara della pelle, eredità di una nonna che non aveva conosciuto mai. Le sue labbra cambiavano colore, quando sorrideva molto. Diventavano un rosso piu scuro.
Aveva ventidue anni, già tanti anni fa, quando ci siamo conosciuto nell’università nel nord-est del Brasile. Portava sempre con se una macchina fotografica. A quel tempo lei aveva già abitato in alcuni paesi del Sud America con la sua famiglia, accompagnando il padre che si trasferiva tante volte per lavoro. A volte mi ha parlato dei suoi viaggi e mi ha mostrato molte fotografie. Poche erano dei luoghi e delle città che aveva conosciuto. La maggior parte mostrava solo piccoli oggetti, e molte volte appena parte d’un oggetto: una vecchia porta, uno cancello semiaperto, uno vaso di fiori, i marciapiedi vuoti. Svilupava e stampava le foto. Bianco e nero. E mi parlava di tutte quei pezze di cose. Aveva un’immaginazione.
Non le piacevano molto le attività sociale. Le piaceva stare da sola o con pochi amici. Amava bere l’espresso. Macchiato. Noi conversavamo. Lei mi incantava.
Sono dieci anni che non ci parliamo, ma mi inviava una foto ogni anno, con una breve storia scritta sul retro.
Sono tre anni che non ricevo nulla.
Labels:
Iran Rodrigues
Wednesday, November 25, 2009
Genius: The 99% of my lifetime-sweating rule
What's in the making of (at least some) "geniuses," from Mozart to Tiger Woods?
How much of it is DNA?
And how much of it is unrelentingly-hard-concentrated-super-focused-slowly-built-effort?
Sure DNA plays a role (I'll never forget the way I felt when, many times, after my daily three-hours practice, this friend would stop by my place, sit on the chair, fiddle with the cello, and make it sound, nicely - without having ever studied music..), but we can help it..
"The primary trait she possesses is not some mysterious genius. It’s the ability to develop a deliberate, strenuous and boring practice routine."
See David Brooks' article here.
Some books on this (Daniel Coyle, Malcom Gladwell, Geoff Colvin):
Saturday, November 21, 2009
Milton Hatoum - Dois Irmãos I
"Domingas, a cunhatã mirrada, meio escrava, meio ama, 'louca para ser livre', como ela me disse certa vez, cansada, derrotada, entregue ao feitiço da família, não muito diferente das outras empregadas da vizinhança, alfabetizadas, educadas pelas religiosas das missões, mas todas vivendo nos fundos da casa, muito perto da cerca ou do muro, onde dormiam com seus sonhos de liberdade." (50)
-- Dois Irmãos é um livro forte. A prosa de Hatoum é desconcertante: desenhando com palavras as cores e os cheiros de uma Manaus que já não existe mais; escrevendo a estória de uma família e ponteando o esgarçar das vidas, com o tempo. O fim de um ciclo. De imigrantes e curumins misturados ao cheiro de mercadoria mofando no depósito, um Líbano desaparecido, junto com as gentes, e as coisas ao seu redor.
Labels:
Brasil,
Milton Hatoum
Thursday, November 19, 2009
Buscando cristais
Ele tinha os olhos de um azul meio embaçado, leitoso, e um sorriso largo, e um tanto timido.
Devia ter mais de sessenta anos, e falava repetindo baixinho frases ou pedaços de frases que acabara de dizer.
Com pouco mais de um metro e sessenta e cinco de altura, tinha o rosto marcado por rugas da idade e, como vim a saber mais tarde, de muitos anos de exposição ao sol, caçando pedras preciosas e encontrando cristais de quartzo no cerrado em que a cidade fora construida.
Chegara ali em 1958, a cidade ainda em construção. Numa das levas que trouxe milhares de brasileiros para os improváveis canteiros de construção em pleno planalto central, a capital de um país inteiro sendo transladada em poucos anos desde a beira de um mar azul, encravada numa baía de uma beleza difícil de descrever em palavras, para um semi-deserto de céu muito azul e chuvas torrenciais, tão longe do mar quanto da história que até ali se contara, do país.
Veio como operário, mas logo se encantou com a idéia de encontrar uma pedra brilhante, e passava dias de folga enterrado em valas no noroeste da cidade, recolhendo cristais. Recolhendo, porque os brotões e as valas com as pedras brotando estavam quase a céu aberto. Ele cavava um pouco, recolhia os cristais, e os vendia, muitas vezes, a estrangeiros de passagem pela cidade, hospedados no hotel nacional.
O hotel nacional era o mais luxuoso complexo de hotel e comércio que existia na época, hoje um símbolo de como um conjunto de arquitetura e serviços pode parar no tempo, os quartos cheirando à fumaça de milhares de cigarros impregnada na madeira, janelas, cortinas, e pintura. O saguão imponente ostentando o mármore escurecido pelo tempo, a mobília antiga, e uma aparência leve de abandono que se estende a todo o prédio, sugerida por uma mistura de sinais de descuido por dentro e fora, paredes externas deixando ver aqui e ali resquícios de inúmeras camadas de tinta branca, e um level odor de azedo recobrindo as dependências, o jardim da entrada, e a ruazinha privada que corre por trás do complexo, portão de entrada dos suprimentos, empregados, e serviços oferecidos pelo hotel.
Ainda tem vários cristais coloridos, guardados em casa desde aquela época. Vendeu muitos cristais aos estrangeiros, ele disse, embora não pudesse cobrar muito caro pelas pedras. Mas só pra quem vinha de outros países, porque brasileiros mesmo, esses olhavam e não tinham o menor interesse.
Devia ter mais de sessenta anos, e falava repetindo baixinho frases ou pedaços de frases que acabara de dizer.
Com pouco mais de um metro e sessenta e cinco de altura, tinha o rosto marcado por rugas da idade e, como vim a saber mais tarde, de muitos anos de exposição ao sol, caçando pedras preciosas e encontrando cristais de quartzo no cerrado em que a cidade fora construida.
Chegara ali em 1958, a cidade ainda em construção. Numa das levas que trouxe milhares de brasileiros para os improváveis canteiros de construção em pleno planalto central, a capital de um país inteiro sendo transladada em poucos anos desde a beira de um mar azul, encravada numa baía de uma beleza difícil de descrever em palavras, para um semi-deserto de céu muito azul e chuvas torrenciais, tão longe do mar quanto da história que até ali se contara, do país.
Veio como operário, mas logo se encantou com a idéia de encontrar uma pedra brilhante, e passava dias de folga enterrado em valas no noroeste da cidade, recolhendo cristais. Recolhendo, porque os brotões e as valas com as pedras brotando estavam quase a céu aberto. Ele cavava um pouco, recolhia os cristais, e os vendia, muitas vezes, a estrangeiros de passagem pela cidade, hospedados no hotel nacional.
O hotel nacional era o mais luxuoso complexo de hotel e comércio que existia na época, hoje um símbolo de como um conjunto de arquitetura e serviços pode parar no tempo, os quartos cheirando à fumaça de milhares de cigarros impregnada na madeira, janelas, cortinas, e pintura. O saguão imponente ostentando o mármore escurecido pelo tempo, a mobília antiga, e uma aparência leve de abandono que se estende a todo o prédio, sugerida por uma mistura de sinais de descuido por dentro e fora, paredes externas deixando ver aqui e ali resquícios de inúmeras camadas de tinta branca, e um level odor de azedo recobrindo as dependências, o jardim da entrada, e a ruazinha privada que corre por trás do complexo, portão de entrada dos suprimentos, empregados, e serviços oferecidos pelo hotel.
Ainda tem vários cristais coloridos, guardados em casa desde aquela época. Vendeu muitos cristais aos estrangeiros, ele disse, embora não pudesse cobrar muito caro pelas pedras. Mas só pra quem vinha de outros países, porque brasileiros mesmo, esses olhavam e não tinham o menor interesse.
Labels:
Iran Rodrigues
Monday, November 16, 2009
Looking intently: what you want to see? (plain nonsense)
Brooke is pretty, snappy, glamorous, and has a well-paying job.
Drives a shiny new car, has her hair done four times a week, her nails once, and wakes up early every day to sweat and puff in tightly colorful clothes at the gym near her place.
After a twenty minute commute, listening to bursting-recent, on the charts, Mtv awarded songs, she spends a good part of her day divided between interviews with high-profile customers and writing legal pieces and preparing for appellate court briefs and oral arguments.
Wearing large sunglasses with lightly yellow coated lens, she drives talking on the phone or to somebody on the passenger seat, while looking uninterestedly to the landscape by the road. What does she see? Where is she looking at?
At nights, on the large soft couch at the center of her loft by the Park, or out on the dancing floor of a club she likes to go, she looks at the women, noticing every little detail, the matching of the rings, dress, shoes, watches. She sees them, I am sure, quite well.
Drives a shiny new car, has her hair done four times a week, her nails once, and wakes up early every day to sweat and puff in tightly colorful clothes at the gym near her place.
After a twenty minute commute, listening to bursting-recent, on the charts, Mtv awarded songs, she spends a good part of her day divided between interviews with high-profile customers and writing legal pieces and preparing for appellate court briefs and oral arguments.
Wearing large sunglasses with lightly yellow coated lens, she drives talking on the phone or to somebody on the passenger seat, while looking uninterestedly to the landscape by the road. What does she see? Where is she looking at?
At nights, on the large soft couch at the center of her loft by the Park, or out on the dancing floor of a club she likes to go, she looks at the women, noticing every little detail, the matching of the rings, dress, shoes, watches. She sees them, I am sure, quite well.
Saturday, November 7, 2009
Drummond I - Liquidação
"A casa foi vendida com todas as lembranças
todos os móveis todos os pesadelos
todos os pecados cometidos ou em via de cometer
a casa foi vendida com seu bater de portas
com seu vento encanado sua vista do mundo
seus imponderáveis
por vinte, vinte contos."
LIQUIDAZIONE
Tradução: Antonio Tabucchi
La casa è stata venduta con tutti i ricordi
tutti i mobili tutti gli incubi
tutti i peccati commessi o in procinto di essere
[ commessi
la casa è stata venduta col suo sbattere di porte
col suo vento incanalato la sua vista sul mondo
i suoi imponderabili
per venti, venti soldi.
Labels:
Brasil,
Carlos Drummond de Andrade
Friday, October 30, 2009
Estoria da Estoria III
A mulher e seus peixes.
Eva trabalha numa loja de aquarios e peixes ornamentais.
Num local tão improvável quanto o segundo subsolo de um shopping de periferia. Nivel -2 do estacionamento.
Eva tem dois filhos. O marido desapareceu, um dia.
Eva trabalha numa loja de aquarios e peixes ornamentais.
Num local tão improvável quanto o segundo subsolo de um shopping de periferia. Nivel -2 do estacionamento.
Eva tem dois filhos. O marido desapareceu, um dia.
Tuesday, October 27, 2009
Brasilia: cosmopolitismo suburbano
Longe dos predios anos 50 da administração federal, longe dos casarões espalhados nas beiradas do lago, Brasilia é recheada de sinais indicando a elementos de sua historia demografica recente. Uma cidade de imigrantes em varios níveis: desde os nordestinos vindos na poeira dos tratores cinquenta anos atras, até a classe média elevada a funcionalismo público federal ou distrital, transportada em mala, cuia, cadernos de estudos, e publicações preparatórias para exames de admissão à carreira pública, para pleno cerrado central.
Então eu saio a andar pelas quadras do Sudoeste, por exemplo, e descubro, espantado, a quantidade enorme de salões de beleza espalhados. Apinhados: dois, tres, quatro, cinco até, por quadra. De onde vem a demanda por tantos salões de beleza? Da população jovem, solteira, chegada a não-muito tempo de outras paragens. Ao regime de trabalho de seis horas, que deixa sempre tempo livre para refazer as unhas, arrumar o cabelo, antes de almoçar no self-service perto de casa e partir para o trabalho.
Retraco meus passos pela mesma região, escarafinchando cantos de quadras, superblocos, ruas sem saída: nessa região cara de morar - para uma classe média recém chegada - com filas enormes de potenciais inquilinos em busca de apartamentos para alugar, é impossível encontrar uma livraria. Nem um sebo, sequer.
Então eu saio a andar pelas quadras do Sudoeste, por exemplo, e descubro, espantado, a quantidade enorme de salões de beleza espalhados. Apinhados: dois, tres, quatro, cinco até, por quadra. De onde vem a demanda por tantos salões de beleza? Da população jovem, solteira, chegada a não-muito tempo de outras paragens. Ao regime de trabalho de seis horas, que deixa sempre tempo livre para refazer as unhas, arrumar o cabelo, antes de almoçar no self-service perto de casa e partir para o trabalho.
Retraco meus passos pela mesma região, escarafinchando cantos de quadras, superblocos, ruas sem saída: nessa região cara de morar - para uma classe média recém chegada - com filas enormes de potenciais inquilinos em busca de apartamentos para alugar, é impossível encontrar uma livraria. Nem um sebo, sequer.
Amsterdam. Ian McEwan III
"Each day he made attempts, little sketches, bold stabs, but he produced nothing but quotations, thinly or well disguised, of his own work. Nothing sprang free in its own idiom, with its own authority, to offer the element of surprise that would be the guarantee of originality."
(...)
"We know so little about each other. We lie mostly submerged, like ice floes, with our visible social selves projecting only cool and white. Here was a rare sight below the waves, of a man's privacy and turmoil, of his dignity upended by the overpowering necessity of pure fantasy, pure thought, by the irreducible human element - mind."
"Cada dia ele experimentava, pequenos esboços, tentativas arrojadas, mas não produzia nada além de citações, bem ou mal disfarçadas, do seu próprio trabalho. Nada surgia livre em sua própria lingua, com autoridade própria, para oferecer o elemento de surpresa que seria a garantia de orginalidade."
(...)
"Sabemos tão pouco uns dos outros. Existimos quase completamente submersos, como icebergs, nosso eu visível projetando apenas brancura e frescor. Aqui estava uma visão rara por sob as ondas, da privacidade e desordem de um homem, sua dignidade subjugada pela irresistível necessidade da pura fantasia, do puro pensamento, por esse elemento humano irredutível – a mente."
- Tradução: Iran Rodrigues
(...)
"We know so little about each other. We lie mostly submerged, like ice floes, with our visible social selves projecting only cool and white. Here was a rare sight below the waves, of a man's privacy and turmoil, of his dignity upended by the overpowering necessity of pure fantasy, pure thought, by the irreducible human element - mind."
"Cada dia ele experimentava, pequenos esboços, tentativas arrojadas, mas não produzia nada além de citações, bem ou mal disfarçadas, do seu próprio trabalho. Nada surgia livre em sua própria lingua, com autoridade própria, para oferecer o elemento de surpresa que seria a garantia de orginalidade."
(...)
"Sabemos tão pouco uns dos outros. Existimos quase completamente submersos, como icebergs, nosso eu visível projetando apenas brancura e frescor. Aqui estava uma visão rara por sob as ondas, da privacidade e desordem de um homem, sua dignidade subjugada pela irresistível necessidade da pura fantasia, do puro pensamento, por esse elemento humano irredutível – a mente."
- Tradução: Iran Rodrigues
Labels:
Ian McEwan
Estoria da Estoria II
Planes turning in scrap metal at the airports in Rio de Janeiro, São Paulo, Cape Cod.
Rusting in thin air.
Forgotten by the runaways continuously treaded by newer machines, silently watching their newer counterparts going by, while the stain of rusting metal goes unwashed by uncounted rainfalls. Slowly being disembodied; repository of scrap parts and reminders of a history of air travel in Brazil.
The man who repairs planes, but never flew.
Colorado/Arizona plane cemetery.
Rusting in thin air.
Forgotten by the runaways continuously treaded by newer machines, silently watching their newer counterparts going by, while the stain of rusting metal goes unwashed by uncounted rainfalls. Slowly being disembodied; repository of scrap parts and reminders of a history of air travel in Brazil.
The man who repairs planes, but never flew.
Colorado/Arizona plane cemetery.
Saturday, October 24, 2009
Hombre y su niña. La niña y su hombre
At the Botanical Gardens. Buenos Aires, Argentina.
Una mezcla di esperanza y resignación.
Soy yo. Somos nosotros.
"Un dia, quizás? Más probable que non. Che continuamo ad essere solo un uomo perduto nei libri, nelle estorie, nela sua stessa negazione di vivere; di vivere, poi, la sua stessa vita."
Labels:
Buenos Aires
Guimarães Rosa en español
Gran Sertón: Veredas
Publicado en Argentina: junio de 2009
Publicado en Argentina: junio de 2009
"Le explico: el diablo rige dentro del hombre, en las asperezas del hombre - o es el hombre arruinado, o el hombre de los reveses. Suelto, por sí, ciudadano, no hay diablo alguno. ¡Ni unito, es lo que le digo! ¿Concuerda? Sea franco conmigo: es alta merced que me hace; pedir eso puedo, encarecidamente."
- Tradução: Florencia Garramuño y Gonzalo Aguilar
Labels:
Brasil,
Guimarães Rosa
Monday, October 5, 2009
Other voices, other rooms - Truman Capote IV
"But we are alone, darling child, terribly, isolated from each other; so fierce is the world's ridicule we cannot speak or show our tenderness; for us, death is stronger than life, it pulls like a wind through the dark, all our cries burlesqued in joyless laughter; and with the garbage of loneliness stuffed down us until our guts burst bleeding green, we go screaming round the world, dying in our rented rooms, nightmare hotels, eternal homes of the transient heart."
-- Capote is brilliant in this book.
Metaphors, hyperboles, innuendos, irony, come around in every paragraph. The exotic scent of a luxuriant, decrepit and maddening hot South is everywhere to be found.
The speaker here reminds me of Marcel Proust in his room, dreamily writing about the Marquis de Quercy and "a race accursed".
-- Capote is brilliant in this book.
Metaphors, hyperboles, innuendos, irony, come around in every paragraph. The exotic scent of a luxuriant, decrepit and maddening hot South is everywhere to be found.
The speaker here reminds me of Marcel Proust in his room, dreamily writing about the Marquis de Quercy and "a race accursed".
Labels:
Truman Capote,
USA
Subscribe to:
Posts (Atom)